domingo, 7 de junho de 2009

Desejo mudo

Sempre teve medo do silêncio. Quando fedelha, por imaturidade e/ou por instinto o tal do silêncio lhe remetia uma intensa sensação de solidão. Era constante. Bastava anoitecer e todos dormirem para o não-ruído se instalar. Era assim até que ela pegasse no sono. Surrurava, então, bem baixinho para sua mãe -" já tá dormindo?", a mãe no auge da sua inércia lhe respondia - "uhum". Aquilo já lhe servia de consolo.
Porém, com o passar dos anos o silêncio ganhou outro nome. Hoje pode ser chamado de vazio, e muitas vezes de tão vazio ganha título de abismo. Quando está triste, pode-se dizer que ela está em silêncio. Conseguindo somente esboçar gestos, pois as palavras ficam engasgadas. Prefere guarda-lás. Para ela, sossego nunca foi sinônimo silêncio. Este lhe gera, sim, um grande estado de inquietação. É seu momento preferido para remoer frustrações, sendo capaz de ficar horas (ela e o silêncio) confabulando todas aquelas... como deveria chamar??? Decepções!
Um certo dia, durante um surto-metafórico-criativo ela decidiu pensar no silêncio como um jardim. No qual dependia dela cultivar flores para preencher aquele vasto gramado vazio. Mas como ela saberia qual a semente ideal para vingar naquela terra? Decidiu por vez, cultivar rosas. Ela de fato considerava uma linda flor.
Não demorou muito para os primeiros botões aparecerem, elas estavam vingando rápido! Em menos de um mês o jardim já estava repleto de rosas vermelhas, que desabrocharam com um explendor sem igual! Ela resolveu pegar uma para enfeitar o cabelo, colheu a mais bonita de todas e colocou atrás da orelha. Contudo, sem que ela notasse, aquela rosa estava cheia de espinhos ao longo do caule, e estes vieram a ferir seu rosto. Confundindo o vermelho das pétalas com o sangue que escorrera da sua nuca.
Após o acontecido, ela mesma removeu aquela plantação de rosas vermelhas. Agora ela desejava somente flores sem espinhos! Então, por vez, providenciou uma plantação de jasmins brancos. Estes sem dúvida pareciam inofencivos.
Meses se passaram e nada de aparecerem aqueles lindos botões brancos. Foi uma longa espera, mas pode-se afirmar que valeu a pena. Que lindos eram aqueles jamins! Esbanjavam beleza!
Ela pegou uma daquelas dezenas de flores para sentir seu perfume. Um cheiro doce, muito forte e muito agradável. Pena que em alguns minutos, aquele perfume todo lhe gerou uma crise alérgica. E mais uma vez ela teve que se ver livre da plantação.
Depois de tanta frustração ela resolveu deixar de lado essa história de jardim. Entretanto, ela teve uma sábia decisão. Pois sem saber, ela deixou para a própria natureza a missão de escolher a melhor flor para crescer em seu jardim. Acredito até que a flor ideal já foi encontrada, porém, está alí, em silêncio, à espera do momento certo para vingar...

3 comentários:

  1. "Nosso céu tem mais estrelas,
    Nossas várzeas têm mais flores,
    Nossos bosques têm mais vida,
    Nossa vida mais amores."

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  2. Não sei se foi você que escreveu,mas independente de quem o tenha feito me tocou,me fez pensar e como AMO coisas "pensantes" eu adorei esse texto.
    Lindo lindo demais! Ops:Você que escreveu né? Acho que você deveria apostar mais nesse seu talento, o que não falta pelo que estou percebendo é isso,esse deu "dom" de contar as coisas.

    Te amo,parabéns pelo texto.

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  3. Sempre existe uma nova flor. Quando a gente insiste geralmente não dá certo. Mas, apesar das decepções e da realidade, eu não deixo minha crença no final feliz ir embora. Ele chega quando menos esperado.

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